COAGULAÇÃO DO SÊMEN: ORIGEM, FUNÇÃO BIOLÓGICA E IMPORTÂNCIA PARA A FERTILIDADE MASCULINA

O sêmen humano é um líquido biológico composto por secreções oriundas de todos os órgãos genitais (testículos, epidídimos, próstata e vesículas seminais) e dos ductos ejaculatórios (incluíndo a uretra), que se misturam durante a ejaculação para dar suporte aos espermatozoides, em seu longo caminho até a fertilização. Por sua vez, estas secreções contém inúmeras substâncias, cada uma com uma função biológica, embora esta seja praticamente desconhecida na grande maioria dos componentes químicos presentes no sêmen. A maior prevalência das secreções que compõem o sêmen é do líquido produzido pelas vesículas seminais (cerca de 60-65% do ejaculado). Por outro lado, a fração prostática é responsável por cerca de 30-35%.

Uma importante função biológica das vesículas seminais é a produção de nutrientes para o metabolismo espermático, especialmente de frutose e de fósforo inorgânico. As vesículas seminais também produzem proteinas, especialmente a Semenogelin I e II, que são componentes básicos para a formação do coágulo seminal. A coagulação do sêmen é um evento simultâneo a ejaculação, o qual é  muito importante para a fisiologia seminal, para o coito e para os eventos que antecedem o processo de fertilização humana. O coágulo seminal tem a função de proteger os espermatozoides durante sua passagem pela vagina. A secreção vaginal é muito ácida e o contato direto dos espermatozoides com o ambiente vaginal causa a morte imediata dos gametas masculinos, se não houver a proteção do coágulo seminal. Embora sejam distúrbios raros, a ausência ou a formação de um coágulo deficiente podem ser uma causa importante de infertilidade masculina. Quando se detecta estes distúrbios no exame do sêmen, eles sugerem uma deficiência na atividade secretora das vesículas seminais.

Infelizmente, a avaliação da coagulação do sêmen geralmente é menosprezada na prática laboratorial, inclusive ela não faz parte das recomendações básicas do Manual da Organização Mundial da Saúde para o exame do sêmen (2010). Isto se deve principalmente ao fato que, desde que o exame do sêmen foi introduzido na rotina laboratorial, sempre houve uma tendência para que o paciente colha a amostra em casa e não no laboratório e esta tendência vem se acentuando nos últimos anos, Esta conduta inviabiliza a avaliação da coagulação seminal, a qual deve ser feita logo após a ejaculação. Porém, como foi dito acima, em alguns pacientes esta avaliação pode ser decisiva para determinar causas de infertilidade masculina.

Deve ser enfatizado que durante o coito, usualmente o sêmen se deposita na parte posterior da vagina, bem próximo do orifício externo que dá acesso ao canal cervical. Os espermatozoides com boa vitalidade, motilidade progressiva e morfologia normal ali depositados, rapidamente migram para o canal cervical, onde encontram as condições favoráveis para a sua sobrevivência e para seguir sua longa viagem pelo útero até as trompas, durante o período ovulatório. Ao contrário da secreção vaginal que tem um pH em torno de 4,0, o muco cervical é alcalino, apresentando um pH igual ou maior do que 8,0. Este nível de pH é altamente favorável para os espermatozoides.

Em nossa prática no exame do sêmen, nós observamos que o pH seminal igual ou menor que 7.2 já pode afetar vitalidade espermática, pois há uma quebra do equilíbrio dinâmico na prevalência de secreções produzidas pela próstata e pelas vesículas seminais, aumentando progressivamente o volume de secreção prostática a medida que diminui o valor do pH seminal. Comparando esta característica do pH do sêmen com o pH vaginal é obvio que a secreção vaginal causa efeitos altamente deletérios na sobrevivência dos espermatozoides, o que é amortecido em parte pela presença do coagúlo seminal após a ejaculação. Vale lembrar que os demais espermatozoides que não têm a proteção do gel proteico do coágulo seminal, mesmo que normais, rapidamente morrem, bem como aqueles que não apresentam os requisitos básicos nesta fase inicial do processo de fertilização. Resumindo, embora não sejam frequentes os distúrbios na coagulação do sêmen, sua avaliação é fundamental em certas circustãncias.

Em nossa rotina de análise seminal avançada, nós avaliamos o processo de coagulação seminal usando uma metodologia que classifica o coágulo presente em 4 tipos de resultados: 1- Coagulação ausente; 2- Coagulação pobre; 3- Coagulação moderada; 4- Coagulação intensa. As coagulações moderada e intensa são considerados normais, ao passo que as coagulações pobre e ausente são anormais. Neste caso, devem ser investigadas as suas causas. Disfunções nas vesículas seminais são as principais causas destas alterações e em alguns pacientes elas são causadas por infecções. Um caso típico de coagulação ausente, que é decisivo para o diagnóstico, ocorre quando o paciente é portador de agenesia dos canais deferentes, uma patologia rara relacionada com o gene da fibrose cística. Nesta patologia as vesículas seminais também estão ausentes, pois têm a mesma formação embrionária dos canais deferentes. Como consequência, o ejaculado de pacientes portadores deste distúrbio se compõe apenas de secreção prostática. Obviamente, os níveis de marcadores bioquímicos das vesículas seminais no sêmen se apresentam praticamente zerados, ao passo que os marcadores de bioquímicos da função são anormalmente elevados.

Ainda é importante enfatizar que a liquefação do coágulo seminal in vivo (pós coito) é muito rápida e dura no máximo 15 minutos, para que os espermatozoides possam rapidamente escapar da acidez do ambiente vaginal, migrando para o muco cervical. Por outro lado, em condições laboratoriais, (in vitro), a liquefação do gel proteico é mais demorada e pode durar até uma hora, tempo que deve ser acompanhado de perto durante o exame. Por causa desta e de outros avaliações que são feitas em nossa rotina de Análise Seminal Avançada para investigar a atividade funcional da próstata e das vesículas seminais, nós consideramos essencial e indispensável a colheira da amostra no laboratório.


Agendamento de exames:

Laboratório Carlos Chagas de Juiz de Fora, MG: 32-30258001 Whatsapp 32-984546001

Laboratório Dom Bosco de Niterói, RJ 21-27199438

Laboratório Tinoco de Três Rios, RJ 21-22554214

O Laboratório Lisalab de Petrópolis (sede) está em fase de reestruturação geral e não está fazendo agendamento de exames no momento. Pacientes da região podem agendar exames no Laboratório Tinoco de Três Rios. Em breve estaremos também agendando exames em nossa sede.

Contatos: lisalabrescenter@gmail.com



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